Aos que serão reclusos

Aqui se vive entre a cruz e a espada
Entre a tesoura e a faca
E o que mais der, ou vier
Vivemos entre monstros
A traição dos sonhos
Traição da beleza
Contos de princesa
Agressão ao caráter moral
Ataque a boa índole, brutal
Insensívelmente fatal

Quando nos resta apenas o ar, sinto dizer, mas o gás logo acaba
A paz não mais exala
Se achega a porta a saudade
Caridade daqueles que empunham a espada
De onde uns correm tranquilos, e outros dormem aflitos
Da minha janela no quarto vejo o infinito
O andar do que está bem
E do que está aflito
Melhor ser a última pessoa viva, do que a primeira alma negada
Bela língua, palavras afiadas

Será que tudo de bom que se passou, agora me serão como memórias mortas?
Oh Senhor, que tu me tornes cego, de tal forma que uma vez mais não me fira a retina
Observando, e só observando, me sinto um intruso
Me sinto só
E dos que serão, sou recluso
Por vezes sinto segurar o mundo
Eu, que sou fração
Como poderei segurar tudo?
Meu corpo se torna o entulho
Retalhado enquanto os braços se erguiam

Tentei assistir, e minhas pálpebras tremiam
Apenas senti
Olhei o mundo, e sorri
Fingi, menti
Pro mundo, e pra mim mesmo
Não é agora, mas foi meu desejo
Escondi, ou omiti
Abri o sorriso, tapei os ouvidos e escrevi
Consenti
Assistindo ainda meu mundo, ás vezes me descubro
Tiro a máscara
Entro no jogo, e mostro a cara
E há a inversão do papel
Acham que sou a mentira, quando estou em verdade
Me veêm escravo, quando estou em liberdade
Me tem por mau, quando estou em bondade
Mesmo que cercado por tudo isso, não fujo
E não me critique, pois cada um tem seus motivos
Tanto para chorar, quanto para sorrir
Os de ficar, e também partir